quinta-feira, 17 de setembro de 2009

OUTUBRO (25)| TWINTAR | ALBRECHT LOOPS E JOSÉ MIGUEL PINTO | 21H30 | n'A Moagem



O Twintar tem a particularidade de não ser controlado por qualquer um dos intervenientes. A previsão do que irá acontecer quando se manipula o instrumento não existe deixando ao músico uma matriz flutuante para operar em que o jogo é feito com intervalos relativos e não exactos. 

Este instrumento tem como base estudos nos comprimentos de corda e a amplificação das mesmas e é influenciado pelos trabalhos de Harry Partch, Hans Reichel e Glenn Branca. 


FICHA TÉCNICA

autoria > albrecht loops 

músicos > albrecht loops, josé miguel pinto 

concepção e construção do instrumento > albrecht loops 

 


Biografias: 

Albrecht Loops 

Nasceu em 67. Autodidacta. Frequentou workshops na área da música improvisada com Carlos Zíngaro, Peter Kowald, Nuno Rebelo, Gunter Muller e John Zorn, e na área da dança e novas tecnologias com Sarah Rubidge e John-Marc Gowans. Tem o Curso de Construção de Instrumentos Tradicionais Portugueses ministrado por Fernando Meireles (95/96). Compositor de bandas sonoras para teatro, dança, performance, cinema e vídeo, trabalhou com Dato de Weerd, Paulo Lisboa, António Feio, Nuno Cardoso, Paulo Castro, José Wallenstein e Rui Nunes, entre outros. Participa ao vivo como improvisador e performer. Gravou “Capítulo Primeiro” e “Oscilante”, com os Gabardine 12, e “Tails Out”, com os Deadly Gas. A solo gravou “Alkaline-low” / colectânea Way Out New Music From Portugal, “Cargo – 1ª parte: tensor” / colectânea Indiferença, e compilação de temas de bandas sonoras para Visões Úteis, editado conjuntamente com o livro comemorativo dos 5 anos da companhia. Em Junho 2002 lançou o CD intitulado “Coiso” gravado ao vivo no Teatro Nacional S. João em Julho 2001. 

Construtor de instrumentos alternativos. Explorador de sistemas interactivos entre dança e música É director artístico e organizador do Co-Lab, festival internacional de música experimental / improvisada. 

 

José Miguel Pinto

Nasceu em 1973 na Figueira da Foz. Músico autodidacta.

Pertenceu à OfMubi – Oficina Musical da Beira Interior, projecto dedicado à divulgação das Novas Musicas, na qual esteve na organização do 1º. Ó da Guarda – Festival das Novas Musicas.

Dirigiu o workshop "Bandas Sonoras e Improvisação" (Covilhã, 1997).

Frequentou workshops com Frank Mobus, Gregg Moore, Nuno Rebelo, Jon Rose, Paul Mayer, Hamadi Ben Othman, Aires Silva, Sarah Rubidge e John-Marc Gowans.

Participou em vários concertos na área da música rock, pop, improvisada, electrónica e experimental.

Tocou com R:IP - Rotterdamse Improvisatie Poel em Roterdão, Filipe Menezes, Grupo Grua, Rodrigo Pinheiro, Miguel Leiria Pereira, Albrecht Loops, Gustavo Costa, João Martins.

Compôs bandas sonoras para teatro e intervenções artísticas diversas.

Fez arranjos e instrumentação para TASCO (Tuna da Universidade de Évora), Trashcleaner (banda efémera de pós-rock).

É membro fundador do projecto de música improvisada Oh!Malone, com quem gravou "OhMalone S (4!/k!*(4-k)!)" (co-produção OhMalone / Rock'n'Cave, 2000), "OhMalone ao vivo no Hard Club" (edição de autor, 1998) e compôs a banda sonora para a peça de teatro "Seis Gaivotas", do grupo Visões Úteis. Participou na Mostra Nacional de Jovens Criadores'99.

Utiliza instrumentos tão diversos como a guitarra eléctrica, rádios, cassetes, zeremin (adaptação livre, multifónica e por vezes midi do theremin), instrumentos preparados, computadores, berimbau, memórias RAM de equipamentos diversos, piezos eléctricos.


  Crítica Rui Eduardo Paes: 

Músico de extracção rock voltado para a improvisação, além de ter um interessante percurso como compositor de cena que até agora incidiu especialmente no teatro (bem documentado no álbum “Coiso”), Albrecht Loops prefere tocar guitarras que sejam desenhadas e construídas por si mesmo. A experimentação de possibilidades técnicas e de léxico começa, no seu caso, na manufactura do instrumento – este pode parecer rústico e artesanal, mas dispõe exactamente das propriedades e das características indispensáveis para o seu pessoal jogo sonoro, algo que podemos situar entre Derek Bailey, Fred Frith e Thurston Moore. Em vez de se adaptar à ferramenta a que chamamos guitarra, Alberto Lopes, de seu verdadeiro nome, adapta a guitarra às suas mãos e à mente que as conduz. Mas o mais certo é as bases da sua atitude experimental virem até antes desse trabalho de “luthier”: paralelamente à sua actividade musical, Lopes é um prestigiado engenheiro de som, e este, não o instrumento, é o pilar sobre o qual age enquanto guitarrista. 

Uma das guitarras que saíram da sua banca de montagem é a twintar, mas pelo nome logo verificamos que não é propriamente igual às outras: trata-se de uma guitarra dupla, com os braços em direcções opostas, concebida para ser tocada na horizontal por dois músicos. Imposta à priori é a dependência dos dois executantes, pois as cordas são as mesmas e não é possível dividir o instrumento em dois subsistemas, como acontece com o piano a quatro mãos. O que um faz pode interferir no discurso do outro, pelo que a dupla de twintaristas deve inventar (no tempo real da improvisação) formas colaborativas muito mais próximas do que é usual. A imprevisibilidade deste cordofone é, não um convite ao descontrolo, mas um desafio às capacidades decisórias combinadas, ou pelo menos (inter-)reactivas, dos seus manipuladores. 

 

Para a invenção deste novo instrumento, Albrecht Loops estudou os comprimentos de corda, tal como o fizeram Paul Panhuysen e Ellen Fullman para as suas instalações “long string”, bem como os fenómenos de amplificação, inspirando-se não só nas orquestras de guitarras eléctricas de Glenn Branca e nas guitarras transformadas de Hans Reichel, como na música microtonal de Harry Partch. Plenamente consciente da natureza cooperativa da improvisação musical, Loops tem em José Miguel Pinto um parceiro já habitual. Também este provém do rock, e também este se virou para a música improvisada e o experimentalismo, muitas vezes recorrendo à electrónica. Neste âmbito, lida preferencialmente com piezos, memórias RAM de equipamentos diversos, rádios e cassetes ou um theremin modificado, o zeremin, capaz de multifonias. A guitarra é, no entanto, a sua principal ferramenta, dela fazendo usos igualmente não-conformistas. A escolha indicada, pois, para este projecto. 

 

Rui Eduardo Paes  

[crítico de música, ensaísta, editor da revista jazz.pt] 

 


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