quinta-feira, 17 de setembro de 2009

DEZEMBRO (26) | CONCERTO PARA MAQUINARIAS E ESTADOS LÍQUIDOS | CANAL ZERO | n'A Moagem


Sinopse:  

O projecto Canal Zero habita um lugar onde a imagem e o som se cruzam para dialogarem e se desenvolverem mutuamente, encetando no encontro a construção de uma narrativa incerta, contagiada pela linguagem musical e a imagem em tempo real. Transporta para uma viagem híbrida onde o som tem visibilidade e as imagens ruído. A música electrónica e a música acústica fundem-se, através de instrumentos como a captura de som, os samplers e as modelações analógicas, numa composição orgânica onde a imagem serve como instrumento visual e sonoro. 

Numa mesa de luz, diversos materiais (maquinaria, sucata, tintas, entre outros), como se fossem parte do acervo de um museu de raridades, são exibidos e dissecados sobre um vidro. Em metamorfose, são apresentados em dupla projecção.  

 

A voz dos mecanismos parece emergir de lugares intemporais para depois se dissolver no ar, onde o encantatório e o real encontram as afinidades electivas. Em ambiente laboratorial, a composição é ritmada por um som ora electrizante ora de uma delicadeza simples e 

desprovida. Os três intérpretes são cúmplices numa relação de continuidade e descontinuidade, de modo a darem espaço para que a imagem seja um elemento escultórico do som e o som uma composição da imagem. 

Canal Zero 

 

FICHA TÉCNICA

joão bento > composição e interpretação sonora, composição 

visual, tábua de cordas, teclado, modelações analógicas, 

sampler e captações sonoras 

joão cabaço> composição e interpretação sonora, composição 

visual, guitarra eléctrica, sampler e programação 

rodolfo pimenta > composição de imagem em tempo real e 

composição sonora 

carlos olivença, joão sofio, pedro fonseca > desenho de luz e 

apoio técnico 

joana torgal > design gráfico 

tiago fróis > fotografias 

joão cabaço> ilustração 



Biografia projecto: 

O processo tem vindo a ser desenvolvido desde a primeira apresentação no Cinema S. Jorge (Lisboa), em 2004, a convite do Festival Monstra – Mostra Internacional de Cinema de Animação de Lisboa para sonorizar os primeiros desenhos animados rodados em película, do realizador Emil Cohl. 

A partir de filmes experimentais próprios e de outros criadores portugueses têm apresentado espectáculos dentro e fora do país, entre os quais: Ó da Guarda – Festival de Novas Músicas, no Teatro Municipal da Guarda; Centa (Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas), Tojeira – Vila Velha de Ródão; Imago – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Jovem, Fundão; Cines Casablanca, Barcelona; Sttutgard Film Winter, Estugarda; Cinema Passos Manuel, Porto; Teatro Maria Matos, Lisboa; First Festival, Caldas da Rainha; Super Stereo Demonstration, Linhares da Beira; Cine-Teatro Curvo Semedo, Montemor-o-Novo; Culturgest, Lisboa. 

 

Biografias intérpretes: 

João Cabaço nasceu em 1976 em Santarém. Estudou na Escola Sec. Dr. Ginestal Machado e Artes Plásticas na ESAD das Caldas da Rainha. Edita a fanzin Notibó. Editou o seu primeiro livro - “Scratchbook” em parceria com a Chili com Carne e a Researche pela qual é representado ao nível de ilustração. Participou com ilustrações para a Mutate & Survive, as publicações Mesinha de Cabeceira, e a revista DIF. A nível musical trabalha com o projecto XU, o projecto Canal Zero e Lauro Palma. Tem trabalhado também na musicalização de filmes de animação, recentemente o filme de Fernando Galrrito “Com uma Sombra na Alma”. 

 

Rodolfo Pimenta nasceu em Sintra no ano de 1979. Desde 1996, realiza projectos ligados ao audiovisual, na realização de curtas-metragens de animação e documentários. Co-orientador dos ateliers Frame a Frame, actualmente Oficinas Fotograma 24, onde continua a desenvolver projectos direccionados para um trabalho pedagógico com crianças/jovens, dos quais resultam várias curtas-metragens de animação, algumas premiadas 

nacional e internacionalmente. Actualmente, encontra-se a co-realizar um documentário sobre as Minas da Panasqueira. Em simultâneo, utiliza a imagem como instrumento visual e sonoro, no projecto Canal Zero.   

 

João Bento nasceu no Fundão em 1980. É licenciado em Artes Plásticas pela ESAD das Caldas da Rainha. Formação de música improvisada com o músico Greeg Moore e Teramin com Pamelia Kurstin. Participa com  regularidade em vários encontros e festivais com criações no âmbito da instalação vídeo, live acts, performances e screenings. Coordenou entre 2004 e 2006 o Projecto VS (plataforma de vídeos experimentais portugueses e internacionais). Co-criador e intérprete do projecto Canal Zero, Cinema Volante e da performance “Sem título até Hoje”. Permanente representação em mostras internacionais de vídeo experimental: WKV-Wuertt-Kunstverein Sttutgart Museum, Videoteca Municipal de Lisboa, Festival Documental de Sarajevo, Festival di nuove immagini dei new media – Torim – Itália.   

 

 

Crítica Rui Eduardo Paes: 

Todos os membros do trio Canal Zero são, em simultâneo, artistas sonoros e visuais, e isso tem consequências em tudo o que fazem, seja qual for o prisma com que observemos as suas propostas: a música é evocadora e imagética, sem ser ilustrativa, e as imagens projectadas têm uma construção inerentemente musical. O que significa que não há subalternizações nem hierarquias nos media cobertos pelo projecto, coisa que vai sendo rara. Mas de música instrumental no sentido tradicional do termo, sem recurso às polivalências do computador, se trata, com teclados electrónicos (João Bento) e guitarra eléctrica (João Cabaço), assim como é de pendor escultórico o trabalho visual de Rodolfo Pimenta. Os processos deste são bastante curiosos: coloca maquinarias ou sucatas sobre uma mesa de luz e manipula-as ao vivo, com duas câmaras de vídeo a transmitir para a parede de fundo, sempre em tempo real, os estranhos artefactos produzidos. Ocasionalmente, os ruídos produzidos por essa 

manipulação são processados pelos samplers dos outros dois membros do grupo e assim aproveitados musicalmente. As performances sob o nome Canal Zero balizam-se entre dois extremos: ora são radicalmente abstractas, com, por exemplo, a intervenção da “tábua de cordas” de Bento e de gravações de campo anteriormente realizadas, além de imagens objectuais não identificáveis devido à proximidade da captação, ora sustentam-se sobre “beats” regulares, não muito distantes de alguma música de dança electrónica, com as projecções a tornarem-se mais figurativas e discerníveis. Desta equação resulta o que os próprios elementos do grupo referem como “narrativa Incerta” e “viagem híbrida”, parecendo que estamos num laboratório a experimentar os limites da realidade. Reconhecido videasta, João Bento estudou improvisação musical com o trombonista Gregg Moore e theremin com  Pamelia Kurstin, numa região do País, a Beira Interior, que trouxe alguns importantes nomes para a música experimental (casos de Rodrigo Pinheiro, Albrecht Loops e Kubik), muito graças às iniciativas da Ofmubi. Ilustrador 

e compositor para filmes animados, João Cabaço é um claro produto da dinâmica Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, onde leccionam artistas e músicos de relevo como João Paulo Feliciano e José Eduardo Rocha. Por sua vez, Rodolfo Pimenta tem firmado o seu nome na animação, no documentalismo e na pedagogia audiovisual, interessando-se especialmente pela vertente sonora do trabalho videográfico. Ainda bem que os seus caminhos se cruzaram. 

 

Rui Eduardo Paes  

[crítico de música, ensaísta, editor da revista jazz.pt] 

 

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