quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NOVEMBRO (21) | MECHANIQUE DES CORDES | aXe ENSEMBLE e CARLOS "ZÍNGARO" | n' A Moagem


Sinopse:  

Todo e qualquer espectáculo do aXe Ensemble (Kamal Hamadache e Sigrid Gassler) associa movimento e som, duas das coordenadas fundamentais da arte intermedia. Esculturas cinéticas e máquinas robotizadas constituem os pilares do trabalho musical e cénico, gerido este por meio de um sistema informático baseado no cálculo de probabilidades. No caso específico de “Mécanique des Cordes” verifica-se tal em interacção com um performer humano, o violinista Carlos “Zíngaro”. Entre o movimento e o som há uma relação física, sustentada na vibração das estruturas mecânicas, sendo esta amplificada para tornar audível o mínimo sobressalto.  

 

FICHA TÉCNICA

curadoria > carlos “zíngaro”, rui eduardo paes 

interpretação > aXe Ensemble [kamal hamadache, sigrid 

gassler], carlos “zíngaro” 

granular é uma estrutura financiada pela direcção-geral das artes / ministério da cultura 


Biografias: 

kamal hamadache, compositor com actividade no domínio das músicas electrónica e electroacústica, as obras de Hamadache são como que fotografias sonoras dos mundos geológico, vegetal e animal.  

 

Gassler é uma instalacionista e cenógrafa especialmente interessada na construção de mecanismos que parecem ter uma vida própria e que tanto se dão a ver como a ouvir.  

 

“Zíngaro”, por sua vez, é uma das mais importantes figuras da improvisação internacional, situado algures entre a matriz referencial do free jazz e o experimentalismo, se bem que a todo o momento evidenciando a sua formação clássica. 



Crítica Rui Eduardo Paes: 

Todo e qualquer espectáculo do aXe Ensemble (Kamal Hamadache e Sigrid Gassler, franceses da Bretanha, ele de pai argelino, ela de origem austríaca) associa movimento e som, duas das coordenadas fundamentais da arte intermedia. Esculturas cinéticas e máquinas robotizadas constituem os pilares do trabalho musical e cénico, gerido este por meio de um programa informático baseado no cálculo de probabilidades. No caso específico de “Mécanique des Cordes” verifica-se tal em interacção com um performer, o violinista Carlos “Zíngaro”. Entre o movimento e o som há uma relação física, sustentada na vibração das estruturas mecânicas, sendo esta amplificada para tornar audível o mínimo sobressalto.  

 

O sistema montado tem uma importante componente de aleatoriedade, o que quer dizer que os desenvolvimentos escapam frequentemente à vontade dos intervenientes, mas o certo é que, sem estes, nada aconteceria sobre o palco. É como se existisse uma luta permanente entre as unidades de carbono (os criadores humanos) e as unidades de silício (os computadores). Por haver uma base de dados previamente estabelecida, Hamadache fala das performances de “Mécanique des Cordes” como sendo uma “meta-manipulação” dos sons e dos objectos. As 

leis e as lógicas seguidas são, essencialmente, as do Caos, não no sentido da evidenciação do acidente, mas fazendo passar a ideia de que tudo está secretamente orquestrado pela imponderabilidade da natureza. Daí o nome do espectáculo, alusivo não só à interactividade do violino com os robots e as chapas de metal, mas também à Teoria das Cordas: segundo esta, cada partícula elementar do universo é a manifestação de uma cósmica corda a vibrar com diferentes frequências. 

Compositor com actividade no domínio da música electrónica, as obras de Kamal Hamadache são, regra geral, como que fotografias sonoras dos mundos geológico, vegetal e animal. O seu trabalho passa pela recolha de sons da natureza e o tratamento binário destes, com programas de computador de sua própria autoria. Gassler é uma instalacionista e cenógrafa especialmente interessada na construção de mecanismos que parecem ter vida própria e que tanto se dão a ver como a ouvir. “Zíngaro”, por sua vez, é uma das mais importantes figuras da improvisação 

internacional, situado algures entre a matriz referencial do free jazz e o experimentalismo electroacústico, se bem que a todo o momentoe videnciando a sua formação clássica. No muito pessoal entendimento da música do português perpassam as assumidas influências de John Cage, Ornette Coleman e Jimi Hendrix, mas na sua abordagem violinística podemos também ouvir Paganini, Bartok e Schostakovich. 

 

Rui Eduardo Paes  

[crítico de música, ensaísta, editor da revista jazz.pt] 

 

 

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